Se forma a tempestade no horizonte
e o vento quente e mensageiro
transforma em alvoroço o fim de tarde.
E como uma cantiga,
sussurra por entre as ramadas,
varrendo as folhas caducas
que cobrem as calçadas.
Desprendem-se num repente
as pétalas das flores multicores e perfumadas.
Batem as janelas e portas das casas.
Calam-se os pássaros e insetos.
O pó penetra nas frestas
cobrindo o mobiliário.
E o vento louco
traz consigo a intempérie.
Do céu negro, carregado,
irrompe uma chuva impetuosa
afrontando os obstáculos,
chegando aos borbotões.
Transbordando os arroios
regando as folhas murchas.
E as gotas cristalinas
escorrem dos telhados
molhando os beirais de mármore
das casas cinzas, quase pardas,
muito antigas, com goteiras, desbotadas.
E o granito das calçadas
fica todo enlameado.
Da tempestade restou o ar úmido
o cheiro de terra molhada
as flores e árvores desfolhadas
as poças d'água,
o fim da seca no sertão
e a alegria do lavrador
que enfim, poderá fazer a plantação.
E o canto dos pássaros
retorna timidamente à sinfonia
na alvorada da cidade das colinas
onde outrora chovia.
Fernando Poeta - 2000
Nenhum comentário:
Postar um comentário