8 de setembro de 2012

RESTOS DE GUERRA

Estava eu a vagar solitário
por entre armas espalhadas
onde outrora havia belos jardins.
E nos antigos parques, a abominar a paisagem,
tanques de guerra com seus canhões, agora silenciosos.
Os mananciais de água cristalina
afundaram-se no pó,
que cobria uma terra fumegante, em cinzas.
Nos campos, nos antigos trigais,
corpos estirados,
pedras ensangüentadas
cruzes aqui, ali, acolá.
A areia invadiu e cobriu a vegetação
transformando-a em deserto.
E eu fiquei ao sol, sem sombra e abrigo.
Sem ver as flores coloridas e perfumadas dos jardins
sem parques onde era cultivada a paz.
Sem água e sem trigo,
com sede e com fome.
Difícil crer, meu Deus!
Na morte de meu semelhante,
na destruição de seres humanos,
do trigo, das flores, dos parques,
da água e das árvores
que brotaram da terra durante anos.
Vi todo o horror que se supõe não existir.
E vagando por entre a morte
resgatei o pouco de forças
que ainda restava de meu corpo esfarrapado,
e como homem laborioso,
sequioso do renascer da vida,
parti em busca de outros restos de vida
que empreendessem comigo
a reconstrução de um novo mundo.

Fernando Poeta - 2000

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